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História da Farmácia
O símbolo da Farmácia é
representado por uma taça com uma serpente se enroscando nela, projetando-se do
pé até a borda, com a cabeça em altitude de espera como se fosse beber algo. A
taça evoca o poder curativo das drogas, e a serpente atentamente posicionada,
insinua uma atitude de advertência, ou seja, refere-se à cautela e
responsabilidade ética com que deve atuar o farmacêutico no preparo e na venda
dos medicamentos.
1. As Civilizações da Antiguidade e o Prelúdio da Farmácia
O
início da história da farmácia é praticamente inseparável da história da
medicina e de certo modo sua reconstrução relaciona-se com a compreensão dos
processos, teorias e conceitos científicos que marcaram o desenvolvimento da
terapêutica. Tendo a história do medicamento, como objetivo da investigação
científica, seu enfoque aproxima-se da história da ciência. A abordagem
histórica preocupa-se com a análise das transformações ocorridas na dinâmica
das relações sociais que condicionaram a produção e uso de medicamentos nas
sociedades ao longo do tempo, incluído o desenvolvimento da profissão
farmacêutica (ANDERSON, 2005 e SOUZA DIAS, 2005).
Historicamente
o farmacêutico sempre foi reconhecido pela sociedade como o profissional que
detinha os conhecimentos e o domínio da técnica de preparação de medicamentos.
A origem e desenvolvimento da farmácia identificam um conjunto de saberes e
práticas orientadas à transformação de recursos provenientes do ambiente
natural em artefatos destinados ao tratamento e cura de doenças. No decorrer do
processo civilizatório da humanidade, uma das primeiras preocupações do ser
humano constitui-se no desejo deste em buscar procedimentos que possibilitassem
minimizar o sofrimento ocasionado pelas doenças que o acometiam; assim como utilizar
todos os recursos disponíveis com o intuito de garantir a sua sobrevivência.
A
antropologia supõe com base nas investigações tradicionais que a concepção
dominante nas sociedades arcaicas a respeito dos males causados pelas doenças
era cunho animista, fortemente atribuído ao elemento místico. A restauração ou
cura desses males ficava a cargo dos atribuídos curandeiros, sacerdotes e
feiticeiros da comunidade. Tal tradição permeou as principais civilizações da
antiguidade e pode ser encontrada nos relatos e artefatos remanescentes daquele
período, caracterizando o que Sagrera (2005) denomina Farmácia Arcaica.
O
homem passou a crer que a natureza seria responsável pela provisão dos meios
necessários para amenizar seu sofrimento, fornecendo de forma simbólica, mas
também material, a melhor indicação para o seu uso como medicamento. O uso de
drogas obtidas de origem animal, mineral e vegetal classificavam-nas de acordo
com suas características e, como muitas dessas substâncias tinham sabor ou odor
desagradável e até repugnantes; houve a preocupação em alterar as formulações
dos medicamentos, visando a sua melhor aceitação por parte do paciente. Surgia
desta forma, a Arte Farmacêutica.
2. Síntese Histórica da Farmácia e o Ensino Farmacêutico no Brasil
No Brasil, a história da farmácia caracteriza-se por períodos distintos do processo de formação cultural, o desenvolvimento socioeconômico, político e científico da sociedade brasileira, influenciando diretamente na organização e regulamentação da atividade profissional, do ensino e dos estabelecimentos farmacêuticos no país.
2.1 O Ofício de Boticário e a Arte de Preparar Remédios no Brasil Colonial
Durante
o Brasil Colônia, medicamentos e drogas eram adquiridos em estabelecimentos
comerciais denominados “boticas” as quais eram numerosas até o início do século
XIX. O proprietário desses estabelecimentos, o boticário, frequentemente um
prático com experiência adquirida após anos de exercício do ofício, se submetia
a um exame perante os comissários do físico-mor do Reino para obtenção da
“carta de examinação”; constituíam assim, junto aos físicos e
cirurgiões-barbeiros, um grupo legalmente habilitado e reconhecido pelo estado
para o exercício das práticas de cura.
As
boticas dos jesuítas alcançaram grande prestigio à população provavelmente pelo
fato de conversaram no âmbito da Farmácia a tradição da medicina hipocrática e
galênica terem conseguido incorporar os recursos terapêuticos indígenas (EDLER,
2006).
2.2 Do Boticário ao Farmacêutico
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Segundo Santos (1999), a partir do século XIX há uma transformação no referencial de influencia dos determinantes de profissionalização. A principal característica deste período diz respeito a uma presença maior ao estado, como mediador das demandas sociais e do sistema de produção; papel desempenhado através de ações reguladoras e de intervenção sobre a atividade farmacêutica, bem como a formulação de políticas públicas, em sintonia com duas vertentes com forte influência no discurso sanitário oficial emergente: a concepção higienista de política sanitária e a vertente da medicina social. Em 1832, as academias médico-cirúrgicas foram transformadas em faculdades de medicina e os cursos de farmácia foram oficialmente criados (VOTTA, 1965).
Em 1835 a Seção de Farmácia da academia Imperial de Medicina propõe um plano de reorganização do curso de farmácia. No fim do século XIX, as velhas boticas perderam o monopólio da produção de medicamentos, estes se multiplicaram e passaram a ser produzidos industrialmente. Os estabelecimentos tiveram que passar por drásticas mudanças, algumas conseguiram transformarem-se em laboratórios farmacêuticos, outras passaram a comercializar os produtos industrializados e outras simplesmente deixaram de existir acompanhando o crepúsculo da produção artesanal de medicamentos e da Farmácia Oficinal (EDLER, 2006).
2.3 A Transição da Farmácia Oficinal para a Drogaria
Na
passagem do século XIX para o século XX o país experimentava a transição de um
modelo econômico baseado em sociedade agrária para um país industrial e urbano.
Instalaram-se grandes laboratórios para a pesquisa e produção de soros e
vacinas, o que fez com que o Brasil adquirisse alguma capacidade tecnológica na
área de produção de medicamentos (SPADA et al., 2006).
Observou-se
uma brusca transformação no mercado de medicamentos. As antigas boticas onde se
preparavam os medicamentos de forma artesanal deram origem à drogarias,
verdadeiros entrepostos de comercialização de especialidades farmacêutica
(medicamentos industrializados).
A
indústria farmacêutica interessada em ampliar sua influência sob os
prescritores e eliminar qualquer intermediário que dificultasse a estratégia de
massificação da prescrição e consumo de medicamentos industriais contribuiu
para essa situação na medida em que passou a fornecer informações sobre
medicamentos diretamente aos médicos. As bulas substituíram o papel do
farmacêutico como provedor de informação
O
modelo de formação do farmacêutico brasileiro entra em crise, era necessário
readequar o ensino de modo a preparar o farmacêutico para atuar nas novas
atividades que se estabeleciam como o espaço para o exercício profissional.
Referências
Bibliográficas
ANDERSON, S. Making Medicines: A Brief History of
Pharmaceuticals. 1 ed., London: Pharmaceutical Press,
2005.
EDLER, F. C. Boticas e
pharmácias: uma história ilustrada da Farmácia no Brasil. Rio de Janeiro: Casa
da palavra, 2006.
SANTOS, M. R. C.
Profissão farmacêutica no Brasil: história, ideologia e ensino. São Paulo:
Holos, 1999.
SOUZA DIAS, J. A
Farmácia e a história. Texto de suporte à disciplina História e Sociologia da
Farmácia, Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.
SPADA, C.; CHAGAS, J.
R.; SILVA, K. F. F; CASTILHO, S. R. In: BRASIL. Ministério da Educação Instituto
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). A trajetória dos
cursos de graduação na área de saúde, 2006.
VOTTA, R. Breve
história da Farmácia no Brasil. Rio de Janeiro: Laboratório Enila, 1965.